30 julho, 2006

Moving Gelatine Plates (1971) - Canterbury Scene




Resenha -

Movendo-se,
do deslizar no absurdo criativo
à sintetizada organização de estruturas desconexas.
Fecundas idéias,

voando de mãos dadas com a intuição
e naturalmente seguindo o sentido, instintivo.
Bolhas de som flutuantes
que, respirando em convívio,
exalam as perspectivas em festa
pro momento sonoro, o desconhecido.

Esmera criatividade
vestida de vanguardismo,
após um banho jazzístico e dois
ou três copos de lisergia, non troppo,
espressada paradoxalmente com humor,
lirismo, anarquia e gelatina.




27 julho, 2006

Moondog (1956) - Minimalismo Caipira <192 kbits>



Nada melhor do que começar esse blog com um verdadeiro clássico da originalidade - o primeiro (!) álbum desse artista tão singular que foi Louis Hardin, ou o Viking da Sexta Avenida, ou mais especificamente, Moondog - uma verdadeira figura do underground nova iorquino, e um dos grandes da música vanguardista em geral


Nascido em 26 de Maio de 1916, no Kansas, Louis Thomas Hardin mudou-se logo cedo com sua família para Wyoming, um estado caipira no oeste dos Estados Unidos dominado por montanhas distintas e famoso por ter a menor população de todos os estados do país, grande parte de tribos nativas. Lá, morava numa cabana de madeira, ia pra escola de cavalo e se sustentava com caça e pesca próprias. Um episódio que Moondog sempre fez questão de recordar foi quando o chefe de uma das tribos, Yellow Calf, o deixou tocar taumtaum, um instrumento feito de pele de búfalo.


Aos 13 (ou seria 16?) anos, um acidente com um dinamite o deixou cego, fato que certamente contribuiu para seu desenvolvimento perceptivo e auditivo. Estudou música numa escola para cegos, em St. Louis, mas a maior parte de sua formação teórica foi auto-didata, lendo livros em Braille sobre história da música e teoria musical. Nessa época, começou a escrever suas próprias peças, em Braille.


Em 1943, mudou para Nova Iorque, onde conheceu nomes como Bernstein, Toscanini, Charlie Parker e Benny Goodman. Tendo suas raízes nativas e uma vivência invulgar, e sendo exposto à novos horizontes, Moondog passou a projetar sua música num sentido visionário, expandindo a essência de suas fontes regionais com as técnicas sofisticadas de contraponto e as novas estruturas que estavam sendo exploradas nos temas modais. Mais tarde, Philip Glass e Steve Reich o apontaram como a gênese do minimalismo, ao que o humilde e espirituoso Moondog respondeu: "Bach já fazia minimalismo nas suas fugas. So what's new?"


A partir do disco aqui apresentado, o primeiro gravado pela Prestige, uma gravadora de jazz, sua obra começou a crescer - versátil, viva, surpreendente, plena de um sentido transversal às diversas visões e sensibilidades da América, caminhando numa intersecção entre as expressões eruditas e o jazz improvisacional, e entre a exploração destas canções modernas e de suas raízes na música nativa.
Conhecido naqueles tempos como o Viking de Manhattan, graças à seu visual excêntrico, quase "bizarro", passeava pelas ruas de Nova Iorque vendendo seus discos e suas partituras e tocando ao vivo.


Suas atividades editoriais e de palco só ficaram mais intensas e respeitadas entre os anos 70 e 90, apesar de bem antes já ter sido reconhecido nos meios musicais. Morreu em 1999, na Alemanha, aos 83 anos.







Para mais informações, o site oficial: http://www.moondogscorner.de


Então... ao disco.

O disco começa com percussões e incursões do piano fortemente rítmicas e explorando passagens musicais, melódicas e harmônicas, não tão comuns às chamadas músicas regionais daquela época. Aliás, no álbum inteiro predominam as percussões, que podem ser dos mais variados materiais, e podem ter sonoridades das mais distintas. Não há muito o que dizer sobre essa obra de arte a quem não ouviu. Eu diria para imaginar um Naná Vasconcelos de outras regiões. O ouvinte vai se deparar com violinos, gente conversando, orientalismo, natureza, coaxadas, instrumentos exóticos, trilhas, peixes, experimentações, dança, primitivismo, melodias marcantes e mais mil coisas que só ouvindo para entender. Tudo isso num âmbito minimalista, sem fincar o pé em nada que seja conhecido por nossos ouvidos, ávidos por coerência. São músicas curtas, que dificilmente ultrapassam os dois minutos; pouco mais de meia-hora de música que pode levar o ouvinte à lugares e ambientes dos mais desconhecidos e inesperados. Realmente, uma viagem surpreendente, uma experiência encantadora.

Track list:

01 - Caribea
02 - Lullaby
03 - Tree Trail
04 - Death, When You Come To Me
05 - Big Cat
06 - Frog Bog
07 - To A Sea Horse
08 - Dance Rehearsal
09 - Surf Session
10 - Trees Against The Sky
11 - Tap Dance
12 - Oo Debut
13 - Drum Suite
14 - Street Scene

Download: http://rapidshare.de/files/27267675/Moondog1956.zip.html